O juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Especializada da Justiça Militar de Mato Grosso, determinou nesta terça-feira (23) a prisão do ex-comandante da Polícia Militar, Zaqueu Barbosa, e do cabo da PM Gerson Luiz Ferreira, que atualmente está lotado na Casa Militar de Mato Grosso. Zaqueu ocupava a função no período em que um esquema de interceptações clandesinas funcionou no Núcleo de Inteligência da PM, que veio à tona há pouco mais de uma semana com uma reportagem do Fantástico.

Ainda não há confirmação se os mandados de prisão foram cumpridos. Após a prisão, porém, o cabo e o ex-comandante da PM devem passar por exame no Instituo Médico Legal (IML) e, em seguida, por audiência de custódia.

O cabo Gerson Luiz foi quem pediu à Justiça autorização para grampear telefones de políticos, jornalistas, médicos, entre outras pessoas que não tinham relação com uma investigação sobre tráfico de drogas na fronteira, que seria a justificativa usada para as interceptações.

O esquema vigorou entre outubro de 2014 e agosto de 2015. Na época, Gerson estava cedido ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).

Zaqueu assumiu o Comando Geral da PM em janeiro de 2015, início da gestão Pedro Taques (PSDB), e pediu a exoneração do cargo exatamente um ano depois.

A própria Corregedoria Geral da PM admitiu, em nota emitida nesta segunda-feira (22), que as interceptações só podem ser requeridas por oficiais da corporação dentro de inquéritos que estejam atuando. E, nesse caso, quem solicitou foi um cabo, que não atuava na investigação. Ainda segundo a corregedoria, os policiais que teriam participado desse esquema são alvos de um inquérito militar.

Segundo o juiz, as prisões preventivas foram decretadas pois eles poderiam atrapalhar as investigações, inclusive destruindo provas. "Importante salientar que o CB Gerson continua trabalhando na Casa Militar, e tem acesso ao software e hardware de interceptação militar, o que facilita ingressar no sistema para consumir, apagar e/ou destruir provas/indícios de crime", diz trecho da decisão.

O esquema

O esquema foi denunciado à Procuradoria-Geral da República pelo promotor de Justiça Mauro Zaque, que foi secretário de Segurança em 2015. Ele diz que recebeu denúncia do caso naquele ano e que alertou o governador Pedro Taques.

Agora, a PGR investiga se Taques sabia do crime e de quem partiu a ordem para as interceptações. O governador, por sua vez, nega que tinha conhecimento sobre o caso.

Segundo consta na denúncia, pelo menos 80 pessoas tiveram as conversas grampeadas no período em que o esquema funcionou. Entre elas políticos de oposição ao atual governo de Mato Grosso, advogados, médicos e jornalistas.

Os telefones foram incluídos indevidamente em uma investigação sobre tráfico de drogas que teria o envolvimento de policiais militares. O resultado dessa investigação, porém, não foi informado pelo governo até hoje.

G1/MT